Pesquisar
Close this search box.

O Ensino às avessas

Sobrelinhas – por Carla Kühlewein

Certamente você conhece a história de Pinóquio: o boneco de madeira que virou menino de verdade. Não sei se você se lembra, mas o tal menino/boneco não era lá muito fã da escola e por isso matou aula várias vezes, motivo que o tornou literalmente um burro (com pés, orelhas, rabo e tudo mais). Sem contar com a emblemática cena do seu nariz que cresce a cada mentira que conta ao seu criador/pai Gepeto.
Mas… e se Pinóquio fosse um “menino que nasce de carne e osso e, à medida que estuda na escola, vai virando outra coisa?” Pois é, foi pensando nessa ideia que Rubem Alves escreveu ‘Pinóquio às avessas’, com ilustrações do inconfundível Maurício de Souza. É “Uma história dedicada às crianças, mas são os pais e os professores que devem lê-la”, avisa Rubem Alves.


Acontece que nessa versão Pinóquio tem nome, Felipe, e é um menino sonhador com um amigo imaginário, o pássaro azul. Se você observar bem a capa do livro vai perceber a presença de duas personagens da Turma da Mônica… e que uma é um menino de verdade, enquanto a outra é… de madeira? Isso mesmo, é a história do ‘Pinóquio às avessas’!


Tudo começa porque Felipe cria uma série de expectativas em relação à escola, mas quando começa a frequentá-la, percebe que não era bem do jeito que imaginava: “Tocava uma campainha. Entrava a professora de Geografia. Por 45 minutos ela falava sobre montanhas, rios, mares. Aí tocava outra campainha. Ela arrumava as coisas e ia embora. Entrava outro professor, o de estória. Por 45 minutos ele falava sobre navegações […] Felipe pensou: ‘É igualzinho a televisão. A gente aperta um botão e o canal muda. Na escola é a campainha que faz mudar o canal do pensamento. Esse deve ser o jeito certo’.”


Felipe encontra dificuldades em se ajustar ao novo ambiente, com o tempo vai se esquecendo “do pássaro azul e do seu desejo de ser cuidador de pássaros” e aprende apenas que “é preciso entrar no mercado de trabalho”.


Como essa história termina? Confira lá, no livro! Mas já aviso que Rubem Alves vira nossa concepção de ensino literalmente do avesso. Afinal, você já tinha pensado que ir à escola pudesse nos deixar assim tão… Pinóquio?

Carla Kühlewein é graduada em Letras Vernáculas e Clássicas (UEL), Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (Unesp) e Doutora em Literatura e Vida Social (Unesp).

Carla Kühlewein

Carla Kühlewein

Compartilhe:

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

FOTO(S) DESTA MATÉRIA

VEJA TAMBÉM:

Religião

Morrer ou, morrer

Por Humberto Xavier Rodrigues Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não